quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Na Terra de Gaudí - Parte 1

Barcelona exala cores por todos os seus cantos. Cores vibrantes, que a todo tempo aguçam a sua percepção.

A chegada no aeroporto da cidade já figura como um momento singular. Descendo do avião, entramos em contato com um calor em todos os níveis sensoriais, um calor único e que nos mostra que estamos em um local que trabalha em vibrações totalmente diferentes daquelas com as quais estamos acostumados aqui em São Paulo.

Na passagem pela imigração, um fato peculiar: os policiais responsáveis pelo controle da entrada das pessoas conversam entre si, soltando exclamações a cada mulher bonita e vistosa que passa por eles.

O metrô que nos leva do aeroporto até a cidade transcorre suavemente pelos trilhos, e pelas suas janelas avistamos o subúrbio da cidade, lotado de prédios amarelados e gastos, com varandas repletas de roupas e varais.

Ao sairmos na estação próxima de nosso albergue, localizado na região central de Barcelona, damos de cara com a dinâmica da cidade, que trabalha a todo vapor. Respirando o ar cosmopolita, avistamos a arquitetura belíssima, os táxis pretos e amarelos, as pessoas com expressões quentes e vibrantes falando diversas línguas, e todos os detalhes da configuração urbana. O almoço sentado em uma mesa na calçada possibilita uma imagem singular de toda a movimentação e do trânsito.

Após uma ciesta, seguindo o exemplo dos catalães, caminhamos pelas ruas e avenidas. Depois de cruzar a belíssima Plaza de Catalunya, entramos na fabulosa Avenida Las Ramblas, repleta de estímulos sensoriais. Sua configuração é meio ao estilo Boulevard, com árvores que fazem um caminho sem fim. Um fluxo contínuo e grandioso de pessoas vem de encontro a nós: gente de todo o mundo circula pelo calçadão, conversando, gritando e gesticulando; "Guapas" fluem incessantemente, agradando nosso olhar a cada minuto; artistas de rua, um em seguida do outro, fazem suas performances; homens segurando engradados de cerveja vendem as latinhas, além de, cuidadosamente, oferecerem haxixe a todos que passam por eles.

As vielas localizadas dos lados das Ramblas são tão intensas quanto a avenida. Pessoas passam por ali sem parar, enquanto outras sentam-se nos bares que oferecem sangria e "tapas" e nos pubs ao estilo irlandês.

Ao longo dessas ruinhas cruzamos a todo tempo com brasileiros, sejam eles turistas ou pessoas que moram em Barcelona. Andando a esmo, damos de cara com o mercado de la Boquería, repleto de frutos do mar, frutas de todos os tipos e feirantes simpáticos e espalhafatosos. Circulando mais um pouco, entramos em uma praça com arquitetura antiguíssima, repleta de palmeiras, restaurantes, bares e baladas.

Após o jantar, por volta de 10 da noite, observamos a chegada da noite, com um céu de um azul profundo, e ainda iluminado de leve pelo sol que se esconde aos poucos. A brisa fresca da noite corta nossos rostos, enquanto andamos rumo as Ramblas e cruzamos a todo tempo com mais "guapas". Um garrafa de vinho na mão nos ajuda, de tempos em tempos, a molhar a garganta, seca pelas constantes exclamações de felicidade e pelas conversas incessantes. Perdidos, pedimos informação a um gari, que prestativamente tira do painel do caminhão de lixo um mapa gigantesco de Barcelona e nos informa as direções necessárias. Entramos em um pub, abafadíssimo e barulhento. Conversamos aos gritos com os bartenders originários das mais diversas partes do mundo, e que nos contam um pouco sobre a mística da cidade e sobre os pontos que devemos conhecer.

Após cervejas e tequilas, deixamos o pub já de madrugada, e circulamos mais uma vez pelas Ramblas. Porém, desta vez, o álcool faz companhia à nossa percepção. Bêbados, encontramos pelas ruas pessoas fazendo street dance, bebendo e conversando. Ao cruzar mais uma vez a Plaza de Catalunya, observamos um grupo de jovens jogando Rugby. No saguão do albergue, bebemos mais uma para encerrar a noite e em seguida nos entregamos de corpo e alma às nossas camas.

No dia seguinte, uma caminhada matinal pela cidade revigora nossas almas. Nos dirigimos à Catedral de Barcelona, que mesmo estando em reformas, surge deslumbrante aos nossos olhos. Seu estilo gótico e rebuscado é fabuloso, assim como seu interior repleto de ouro e as pedras que constituem sua estrutura. Uma senhora catalã nos intercepta dentro da igreja, e começa a nos contar histórias religiosas. Andando um pouco, descobrimos um espaço ao ar livre, com uma fonte repleta de peixes e patos. Ao redor desta, árvores e pessoas circulando por corredores de arquitetura gótica. Pegamos um elevador e nos dirigimos ao topo da catedral. Lá em cima, avistamos Barcelona inteira, suas construções e o mar bem ao fundo.

Em seguida, entramos no Museu da História da Cidade. No acervo, muitas ruínas que datam do período de fundação de Barcelona, além de fragmentos da época da dominação romana. Depois de muito andar, deixamos o museu e sentamos em uma escadaria de pedras angulosas. Matamos o tempo agradando o nosso olhar com as pessoas circulando, a arquitetura e os raios do sol de calor agradável.

Depois do almoço, rumamos ao museu Picasso. Por mais clichê que seja, ver um quadro de Picasso no original é absolutamente fantástico, uma experência única. Além disso, "guapas" desviam nossa atenção a todo momento.

Voltando a pé até o albergue, circulamos pelas ruelas e encontramos personagens peculiares. Conversamos por muito tempo com um velhinho francês, violonista de rua, e que falava português perfeitamente. Em seu repertório, composições de Villa-Lobos.

Próximo a Plaza de Catalunya, um senhor catalão e um turista americano discutem devido a um quase acidente de trânsito. O velho demonstra o orgulho de ser catalão ao soltar frase: "Você está na Catalunha. Aqui não se grita!"

Depois de uma dormida, jantamos e nos preparamos para a noite de Barcelona. Após um "esquenta" com vinho, andamos pelas Ramblas em busca de uma balada. Impressionante a movimentação de pessoas pela madrugada da cidade. Uma vida noturna intensa, que começa tarde e que vai até o sol aparecer.

Entramos em uma balada de música eletrônica. Depois de alguns copos de uísque, nos dirigimos a pista, "pirando" no eletrônico pesado enquanto trocamos idéias com as pessoas. Depois de muito dançar, deixamos a balada e rumamos aos bares da praia. A costa iluminada, a areia e o mar mediterrâneo fazem uma combinação perfeita. Rodamos pela orla e pelos portos, e decidimos sentar em um bar. Um cubano bêbado começa a conversar conosco, falando milhares de frases sem sentido nenhum.

Por volta de 5 da manhã, decidimos retornar ao albergue. Até acharmos a estação de metrô, andamos por uma hora pela belissima madrugada de Barcelona. As Ramblas ainda estão repletas de gente bebendo e conversando.

Chegando no albergue, encerramos a noite com um trago e nos dirigimos ao descanso.

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