sexta-feira, 2 de maio de 2008

Maio de 1968: A Imaginação ao Poder

"O que queremos, de fato, é que as idéias voltem a ser perigosas" - Guy Debord



Barricadas, Colagens e Muros Pichados.

1968 aparece na história como o momento em que a juventude resolveu falar, em um mundo dominado então por conservadorismo, preconceitos e limitação das liberdades.

O súbito aumento de jovens ingressando nas universidades, devido a recuperação econômica da Europa do pós-2ª Guerra Mundial, fez com que fosse percebida a inviabilidade das estruturas dogmáticas do mundo acadêmico e possibilitou a formação da consciência crítica da juventude para com a falta de atenção aos anseios populares. Como disse o historiador Eric Hobsbawm em seu livro "Era do Extremos", a consequência desse aumento de jovens na universidade foi uma "inevitável tensão entre essa massa de estudantes (...) despejadas nas universidades e instituições que não estavam preparadas para tal influxo". Instituições essas que refletiam a rigidez com que era formada a consciência dos jovens na época.
Baseando-se no estudo de pensadores e ícones da esquerda, como Karl Marx, Lênin e Mao-Tsé-Tung, influenciados pelos ideais do processo de Revolução Cultural que se desenrolava na China, e apoiando-se no pensamento revisionista do Marxismo, os jovens franceses criaram formas de organização entre si que permitiam a exposição de seus protestos contra o Estabilishment capitalista da época.


Foto: Militantes da Revolução Cultural chinesa
lêem o livro vermelho de Mao-Tsé-Tung.

Herbert Marcuse, pensador revisionista da esquerda, afirmava que a partir do momento que um operário tem a possibilidade de adquirir bens materiais assim como o burguês, ele não terá interesse em arriscar sua vida para protestar contra o sistema. Dessa forma, a consciência dos problemas da sociedade se daria nas classes médias, e os estudantes das universidades francesas seguiram esse raciocínio, tomando para si o papel de vanguarda com o objetivo de mudar as estruturas vigentes.


Foto: Herbert Marcuse discursa
na Universidade Livre de Berlim.

Apoiando-se na revolta estudantil, proletários aproveitaram a oportunidade para colocar em pauta suas reivindicações. As alianças estudantis-operárias espalharam-se pelo mundo inteiro, causando greves por melhores salários e condições de trabalho.


Legenda da foto: "Os alunos das Belas-Artes
convidam os trabalhadores a vir discutir com eles".

Segundo Daniel Cohn-Bendit, líder estudantil na época e hoje membro do Parlamento Europeu pelo Partido Verde alemão, a essência do Maio de 68 foi "o espírito da liberdade, o desejo de autonomia e de independência.". Para ele o legado dos protestos da época é positivo, uma vez que incitou nos corações e mentes das pessoas uma aceitação da diversidade dos indivíduos, além de idéias mais bem definidas de democracia, autonomia das crianças, liberdade da mulher e homossexualidade.


Foto: O filósofo Jean-Paul Sartre e Cohn-Bendit
durante entrevista coletiva em Stuttgart.

A foto acima mostra perfeitamente como os estudantes e operários não estavam sozinhos em suas reivindicações. Diversos membros da intelectualidade da época apoiaram as idéias de mudança propostas pelos jovens. Além de Sartre, artistas como os cineastas Jean-Luc Godard e François Truffaut, expoentes da Nouvelle Vague francesa, demostraram seu apreço para com o espírito da época.


Foto: cena do filme "A Chinesa" de Jean-Luc Godard,
de 1967, no qual jovens de origem burguesa discutem o
pensamento de esquerda, especialmente o maoísmo e os
ensinamentos do Livro Vermelho.

Além da atmosfera construída na época, foram inovadoras as formas de protesto adotadas pelos estudantes. Frases de efeito e cartazes com forte apelo visual expressavam as reivindicações, na melhor forma de demonstrar o ideal de "A Imaginação ao Poder".


Legenda da foto: "Universidade
Burguesa=>NÃO / Universidade
Popular=>SIM."

Algumas frases elaboradas pelos estudantes e expostas na época:
-"Sejam realistas, exijam o impossível!"
-"A imaginação ao poder"
-"É proibido proibir"
-"O poder tinha as universidades, os estudantes tomaram-nas. O poder tinha as fábricas, os trabalhadores tomaram-nas. O poder tinha os meios de comunicação, os jornalistas tomaram-na. O poder tem o poder, tomem-no!"
-"A política passa-se nas ruas"
-"A revolução deve ser feitas nos homens, antes de ser feita nas coisas"
-"Um só fim de semana não-revolucionário é infinitamente mais sangrento que um mês de revolução permanente"
-"Professores, sois tão velhos quanto a vossa cultura, o vosso modernismo nada mais é que a modernização da polícia, a cultura está em migalhas"
-"O sonho é realidade"

Cronologia:
-Início: A Universidade de Nanterre, nos arredores de Paris, foi cercada no final de abril pelos estudantes liderados por Cohn-Bendit. O movimento logo se dirigiu à capital.
-5 de Maio: 10 mil estudantes entram em choque com a polícia no Quartier Latin, em Paris, protestando contra o fechamento da Universidade Sorbonne.
-10 de Maio: Noite das Barricadas. 20 mil estudantes entram em conflito com a polícia nas ruas de Paris.
-13 de Maio: Estudantes e Trabalhadores unificam os movimentos e decretam Greve geral de 24 horas, contra as políticas trabalhista e educacional do governo de Charles De Gaulle.
-20 de Maio: Auge da mobilização. Paris amanhece sem transporte público, telefone e outros serviços. 6 milhões de grevistas ocupam cerca de 300 fábricas.



Os 40 anos do Maio de 68 demonstram a importância do espírito renovador da época e de como a imaginação, a libertinagem, as artes e a juventude têm poder transformador, antes de tudo, sobre a consciência crítica da sociedade.

Como enfatiza a frase de Guy Debord, idéias "perigosas" são necessárias para que a sociedade não fique estagnada em modelos ultrapassados.

Abaixo a sociedade do espetáculo e as instituições classistas!!!

Viva a liberdade de pensamento aos jovens!!!

Viva as artes!!!

Viva 1968!!!
Fonte: Folha online (reportagem especial sobre o maio de 68)