quarta-feira, 14 de maio de 2008

Fluxos

Cansado, chegou em casa. O mundo lhe parecia distante e em sua mente ondulavam pensamentos diversificados. Buscava sentidos para as vibrações que o circulam infinitamente...Mas afinal o que são sentidos?
Pensou que suas necessidades geravam lógica para seus atos. Mas o que é lógica além de uma justificativa da mente para as coisas que você realiza? No fundo, passou a não acreditar em causas e efeitos...
Sua consciência girava em dinamismo...a vida moderna lhe parecia apetitosa e selvagem aos sentidos, mas em termos práticos acabava não se traduzindo nisso, já que tudo que cruza conosco parece fluir continuamente sem fim. Até o eterno se tornou dialético.
Ruas, luzes, paredes, sinais, símbolos e pessoas a sua volta sem propósitos fixos...O que é isso que roda em espirais contínuas e sem pausas?
O amor era um enigma. Amava e desamava sem parar. Queria e não queria simultaneamente, e questionava se suas ações eram certas ou erradas. No fundo, não sabia nem o que significa certo e errado.
Soldava em sua mente objetivos para o dia seguinte, em uma tentativa de se completar com algo fluído e concreto. Delimitava horários para suas próximas atividades.
Lembrou de como andarilhou e visualizou os rostos dos indivíduos envoltos em existência prática, e de como idéias movimentavam-se desordenadamente pela sua cabeça e de como tentava controlá-las estabelecendo exclamações.
Entrou em seu quarto, jogou a mochila no chão, ligou o som e deitou na cama. A música delineava no ar toda a eternidade que ele buscava nos atos do cotidiano. Uma sensação de paz tomou conta de seu corpo, e ele, sem saber o que se passava, ficou receoso no início, mas por fim aproveitou a quietude de seu espírito.
Foi até a cozinha e preparou seu jantar. Alocou-se na frente da televisão em busca de uma fuga.
Após essa pausa, pensou sobre o pensar, e sobre todas as coisas que andavam pelos confins de sua mente e que nunca conseguiria contar nem ao seu amigo mais próximo nem a sua namorada. Aquilo lhe afligiu grandemente. Sentiu-se solitário e incapaz de se comunicar com todos que o rondavam.
A angústia, sua companheira em determinadas ocasiões, voltava para lhe fazer uma visita. Pensou no ato de amar e de como aquilo lhe fortalecia. Subitamente levantou-se e olhou pela janela. As luzes e o cheiro da noite o embriagavam fortemente, e por um momento perdeu a conexão com qualquer materialidade de seu cômodo. A brisa suave da noite de outono encontrava seu rosto e lhe fazia flutuar pela existência. Chorou, sem saber o que achava da vida. Seu peito pulsava continuamente. A angústia queria sair para dar uma volta.
Sentou-se em frente ao computador e conversou com seus amigos pela internet. Debateu sobre artes, relacionamentos, coisas triviais do dia a dia, etc. Aquilo lhe deu inspiração e vontade de encontrar todos que faziam parte constante de sua vida, aqueles que amava e que gostava. O cotidiano reapareceu em sua mente como uma coisa boa. Ficaria feliz ao acordar no dia seguinte e saber que encontraria seus companheiros de mundo. A cerveja da sexta feira a noite surgia como uma recompensa maravilhosa. Os projetos de sair no fim de semana estampavam felicidade em seu rosto.
Viagens, planos e possibilidades estouravam na sua frente. Quanta coisa a ser sentida. Seu intelecto inflava com tanta informação.
Escovou os dentes e deitou-se em sua cama, acompanhado de seus fones de ouvido para dormir ouvindo música. Penetrou no teto de seu quarto e nele permaneceu por muito tempo, divagando sobre tudo e nada. A música lhe dava arrepios de satisfação eventalmente. De repente o silêncio. E subitamente em seguida o barulho da dia chegava: ônibus, vozes, o ar, a cidade acordando. O despertador apitou enfurecidamente e ele o desligou, sonolento e sem muita noção do que se passava ao seu redor. Retirou os fones, que não transmitiam mais som pois a bateria do Ipod acabara durante a noite. Levantou-se e finalmente entrou de cabeça no mundo. Recomeçava todo o processo.

A alma é uma coisa que alimenta a si mesma.

7 comentários:

Unknown disse...

bonito...

Anônimo disse...

Adoro seu blog dé!!
Fico muito pensativa depois que eu leio...
Beijão!

Anônimo disse...

Páá...
aeeee você apareceu!!!
Volte sempre!
bjao

Anônimo disse...

E assim a vida prossegue.
li isso em um momento interessante. gostei =]

Anônimo disse...

VLW!!!

Anônimo disse...

andré vc nao tem momentos de ócio né?!? pq parece que enquanto as pessoas ligam a tv pra se desligar, pintar as ideias de branco e respirar fundo pra começar tudo denovo , vc parece ouvir todas elas juntas, uma sobrepondo a outra, até q uma se destaca, e vc esquece as outras e começa a divagar, sem controlar ...e ve onde dá...
sempre quando isso acontece comigo ,o turbilhao de ideias, eu penso " to ficando louca" e paro de pensar..vc me iluminou (haha juro) pq agora comecei a tentar fazer como vc,resultados interessantes, não tanto quanto os seus né, sou apenas uma novata.. mas muito obrigada!!! sempre quando visito aqui me "ilumino" tenho saudades disso, a vida pratica tira isso..de parar e simplesmente pensar, e eh isso q seu blog me proporcionaa!!! valeu dé!! mesmo!!!

Anônimo disse...

Brigado pelos elogios má...

Temos q sentar na escadaria da prainha e trocar uma idéia uahuahauahua, q nem daquela vez

bjoss