segunda-feira, 16 de junho de 2008

Caminhante Noturno

Flutuou pelas ruas, cercado pela vibração envolvente do crepúsculo. Sentiu a brisa suave encontrando-se com seu rosto. Sorriu leve e espontaneamente.

Luzes. Focos de existência que surgiam em seu campo de visão tornavam enigmática a atmosfera a sua volta. A mescla das cores alaranjadas, quase róseas, do anoitecer e das iluminações dos postes, edifícios, semáforos e carros dançava a sua frente. Estímulos sensoriais lhe cercavam: sons, o ar com cheiro de começo de noite, o perfume da grama e das Damas da Noite nos jardins dos prédios.

Passou por um local de muitas lembranças: Tinha presenciado muitas tardes quentes e noites frias naquele espaço. Fora um marco de seu cotidiano por um doce período de tempo de sua vida.

Memórias saltavam desordenadamente na sua cabeça. Muitas delas: Uma viagem noturna de ônibus, com fones de ouvido e mãos dadas suavemente; uma tarde no parque; madrugadas passadas na internet; cócegas; conversas em uma pedra no meio de uma praia; almoços e jantares; voltas de carro; esperas incessantes; músicas; mãos pequenas; uma fuga inesperada; sorrisos; discussões; filmes; uma cama e um puff; danças; mensagens; andarilhagens. E todas lhe causavam uma mistura de felicidade e melancolia que inflava seu peito.

Andava sem parar, envolto em um clima peculiar: as delimitações materiais haviam sido superadas e ele não tinha consciência disso. Apenas adentrava cada vez mais profundo em sua mente. Caçou boas e más lembranças. Ventos calmos, calor agradável e muitas luzes, juntamente com muita esperança que penetrava em seu interior.

Se deu conta da chegada definitiva da noite e dos rostos cansados dos seres a sua volta. Prestou atenção no meio-fio e nas árvores da rua, além de olhar profundamente tanto para o céu quanto para o chão. Os olhos se encheram de lágrimas e a brisa aquecia suas bochechas.

Abriu o portão e subiu a escada rumo ao descanso. Música no ar e um sentimento acolhedor.

terça-feira, 3 de junho de 2008

Ummagumma


Difícil fugir do clichê na hora de falar sobre o Pink Floyd.

Talvez pelo fato de a banda ser um marco de originalidade na história do Rock'n Roll e da música.

Gosto de uma grande parte dos discos da banda, basicamente até o "The Wall", de 1979.

Porém, minha fase favorita é aquela anterior ao "Dark Side of the Moon", de 1973, álbum que apesar de genial, trata-se do marco comercial da banda e apresenta uma abordagem, digamos, mais pop do que os trabalhos anteriores.

Nesta fase, o grupo apresenta um andamento bem calibrado pela cozinha (Nick Mason na Batera e Roger Waters no Baixo), porém que exala experimentalismo, numa espécie de rock espacial genial, que te transporta para uma outra atmosfera, trabalhando em outro tipo de vibração.

Na minha opinião, a expoente deste período é o disco "Ummagumma", de 1969. Nele observamos uma mescla de músicas em versões ao vivo e outras em versões de estúdio.

As quatro primeiras canções ("Astronomy Domine", "Careful with that Axe, Eugene", "Set the Controls for the Heart of the Sun" e "Saucerful of Secrets"), ao vivo, são a nata do disco. Teclados, sintetizadores, solos de guitarra...Psicodelia em nível extremo!!! Destaque para "Set the Controls..." que cria um clima oriental a partir dos teclados de Richard Wright e uma levada de bateria "abafada".

O resto do disco, com as versões de estúdio, dá preferência às composições individuais de cada um dos membros da banda. "Sysyphus", de Richard Wright e com 4 partes, trata-se de um trabalho de teclados e sintetizadores. "The Narrow Way", de David Gilmour, é uma peça de 3 partes com diversos "devices" ligados a violão e guitarra. "The Grand Vizier's Garden Party" é o trabalho de Nick Mason com percussões e bateria. "Grantchester Meadows" é um folk composto por Waters, com uma letra interessante e uma levada extremamente agradável. "Several Species of Small Furry Animals Gathered together in a Cave and Grooving With a Pict" é experimentalismo puro e indescritível.

Melhor disco do Pink Floyd que eu já ouvi!!

Bom proveito...